TaxiRio na principal revista alemã Der Spiegel

Como o Rio de Janeiro driblou a Uber

O aplicativo Uber está tirando táxis de cidades de todo o mundo com ofertas baratas e condições de trabalho precárias. O Rio de Janeiro se defendeu – com sucesso. Próximo: serviço de delivery

Rubens da Silva ama seu trabalho. O homem de olhar amigável dirige um táxi no Rio de Janeiro há 17 anos. Ele gosta do contato com os clientes, muitos deles turistas. "Todo dia algo novo acontece, alguém conta uma história interessante", diz ele. O trabalho é a melhor coisa que poderia acontecer a alguém como ele. “Estudei durante quatro anos. Engenheiros e médicos também dirigem táxis.”

Da Silva, 44 anos, trabalha uma média de doze horas por dia, seis dias por semana. Pai de dois filhos, ele ganhava bem, cerca de 7.000 reais (1.250 euros) por mês. Mas em 2014, o Uber entrou no mercado e começou a “roubar clientes”. Da Silva aderiu a protestos com seus colegas. "Já participei de pelo menos dez protestos", diz ele. Eles também lutaram pelos direitos dos motoristas do Uber. “As pessoas andam de chinelos. Você não pode viver do Uber."

Mas a Uber, um aplicativo de transporte, atraiu ofertas baratas e conquistou o mercado. Os ganhos dos taxistas despencaram, um problema que muitas cidades enfrentam desde que a empresa norte-americana de serviços se expandiu globalmente.

Os taxistas protestaram em muitos países. O Uber foi banido em algumas cidades ao redor do mundo, mas o Supremo Tribunal Federal decidiu contra esta proibição em 2019. A cidade do Rio de Janeiro decidiu então vencer a empresa jogando seu próprio jogo. Concorreu com o aplicativo de transporte com uma ideia tão simples quanto criativa: desenvolver seu próprio aplicativo de táxi público, financiado pela Prefeitura.

"Quando o Uber chegou ao mercado, achávamos que os táxis simplesmente desapareceriam", diz Pedro Paulo Carvalho Teixeira, economista e Secretário de Fazenda e do Planejamento da Prefeitura do Rio de Janeiro. “Nosso aplicativo agora é tão bem sucedido que somos uma alternativa real.”

A ideia surgiu em 2015, logo após a entrada da Uber no mercado. Dois anos depois, o aplicativo foi concluído, desenvolvido pela empresa de tecnologia municipal IplanRio. “Hoje, 70% dos taxistas estão cadastrados conosco”, diz Carvalho Teixeira. Não foi necessária uma campanha publicitária, o aplicativo apenas se espalhou. Já conquistou seis cidades no Brasil, entre elas Niterói, Nilópolis e Maceió. Cerca de 65 outros municípios estão interessados; trabalham-se em contratos.

O aplicativo Táxi.Rio é gratuito para os motoristas. De acordo com a administração da cidade, um motorista de táxi ganha cerca de 85 a 100 por cento a mais do que um motorista de Uber. Muitos dos um milhão de motoristas do Uber no Brasil trabalham sete dias por semana para ganhar a vida. Eles costumavam pagar um valor fixo de 25% da tarifa à operadora do aplicativo, mas a taxa é “variável” desde 2018, segundo a empresa.

No entanto, isso também significa que o aplicativo do Rio é um acordo de subsídio – custou à cidade R$ 8,3 milhões para ser desenvolvido. E, mensalmente, o Rio de Janeiro tem que pagar um milhão de reais para manter o serviço funcionando.

"É um tema tão relevante para a cidade que nós pagamos esse valor", diz Carvalho Teixeira, do Partido Social Democrata. "Não temos receita direta do aplicativo, mas temos receita indireta". O serviço colabora para a paz social. Taxistas autônomos também pagam impostos no Rio de Janeiro. A Uber, por sua vez, paga principalmente onde está sediada – ou seja, no paraíso fiscal de Osasco, no estado de São Paulo.

“Isso é problemático porque o Uber usa a infraestrutura da nossa cidade, gera custos ambientais – e ao mesmo tempo contribui pouco para a comunidade”, diz Carvalho Teixeira. Em março de 2021, o Rio de Janeiro introduziu um imposto menor sobre o uso das vias para a Uber. “Só assim descobrimos que quase 90 mil motoristas do Uber estão ativos em nossa cidade, senão temos pouco controle.” A empresa mantém um perfil discreto, números e dados dificilmente são divulgados. O imposto já foi anulado na Justiça.

Para acompanhar o Uber, a empresa de tecnologia municipal IplanRio desenvolveu um sistema inteligente: o aplicativo de táxi do Rio especifica um preço base fixo para as rotas. Ao mesmo tempo, os motoristas têm a oportunidade de oferecer descontos de até 40% na tarifa, o que torna as corridas de táxi mais atrativas para os clientes. Como o Uber ajusta seus preços à demanda atual, às vezes pode até acontecer que os táxis sejam mais baratos, por exemplo, no dia de Ano Novo.

De acordo com a prefeitura, os taxistas já têm uma participação de 30% a 40% no mercado de viagens no Rio de Janeiro, e a tendência é crescente. De qualquer forma, baixar o aplicativo de táxi valeu a pena para o taxista Rubens da Silva, ele conquista alguns de seus clientes dessa forma. Ele não ganha tanto quanto antes, mas ainda ganha mais de dois terços, e pode viver disso.

"Nosso objetivo é tomar contramedidas e equilibrar certas evoluções indesejáveis no mercado", diz Carvalho Teixeira. O Secretário ainda tem muito a fazer: em seguida, planeja resolver o problema dos serviços de entrega de alimentos. Cerca de 100.000 pessoas, a maioria moradores de favelas, trabalham como entregadores só no Rio de Janeiro, e esse número aumentou bastante durante a pandemia.

Os entregadores têm que dar grande parte de seus ganhos aos operadores dos aplicativos como “iFood” ou “Rappi”, as condições de trabalho são exploratórias e os salários são baixos: “Eles trabalham como escravos de 12 a 14 horas por dia; é um trabalho exaustivo e mal pago.”

A empresa municipal de tecnologia IplanRio está, portanto, trabalhando a todo vapor no próximo aplicativo: um serviço municipal de delivery. O aplicativo deve ser lançado em breve, ser gratuito para uso e melhorar a vida dos entregadores. Vai se chamar “Valeu”, algo como "Obrigado, legal".

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